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Paladar e Tato: unindo sensações

16 de junho de 2020

Quando pensamos na sensação do toque, do tato, logo nos vem à cabeça sensações na pele e no corpo como um todo, contudo, precisamos destacar que a boca é uma das regiões com maior representação sensorial no cérebro. A região oral, composta pela parte externa e interna da boca apresenta um grande número de receptores táteis, que levam informações ao cérebro sobre as texturas e consistências dos objetos e dos alimentos.

Entre outras razões, as funções sensoriais é uma das explicações do porquê os bebês começam a explorar o mundo com a boca…sentir os objetos, a própria mão, o seio e a pele materna. Esses momentos são fundamentais, base para a construção do afeto, da motricidade e do desenvolvimento de uma forma geral.

Mas hoje vamos começar a falar sobre um outro aspecto em que o Sistema Tátil está envolvido que é a alimentação do bebê. Vamos imaginar aqui quantas sensações são “ativadas”, recebidas pelo cérebro do bebê e da criança durante a alimentação. Vocês conseguem imaginar um momento de maior integração das sensações que a hora da oferta do alimento? A visão, o tato, o cheiro, o gosto (paladar)…são muitos os desafios dos bebês prematuros para se alimentar do leite e aos poucos, na introdução de diferentes texturas de novos alimentos que vão compor o cardápio infantil.

Sabe-se, que por causa do histórico clínico de um bebê prematuro ou de um bebê com problemas no processamento sensorial, a introdução dos alimentos e mudanças de consistências pode ser uma tarefa difícil para eles e suas famílias. Assim como as crianças hiper-reativas choram ao ser tocadas, ou não gostam de lavar a cabeça, cortar as unhas, ou ainda, escolhem usar determinadas textura de roupas, não se sujam, etc…. essas crianças já muito antes de apresentar esse conjunto de sinais, estavam dizendo que algo na integração das suas sensações que estava difícil, pois podem apresentar também, comportamentos de aversão oral e se mostrarem reativos a tudo que vai à sua boca.

O desenvolvimento da alimentação depende de três áreas básicas:

  • Sensorial: paladar, olfato, tato e propriocepção
  • Habilidades oro-motoras: sugar, mastigar e engolir
  • Maturidade Neurológica: reflexos de deglutição, sucção e GAG (ânsia-reflexo de defesa).

Aqui vamos nos concentrar na reflexão de como as sensações são determinantes nesse processo. O tato é importante para que a criança consiga processar de forma confortável e saudável diferentes texturas no corpo e na boca. Somado a isso, a função de discriminação tátil e proprioceptiva são fundamentais para que os nossos pequenos consigam manter o alimento dentro da boca, localizar o alimento na boca e formar o bolo alimentar adequado a partir da mastigação.

E onde entra o famoso Paladar? Nos sabores… o paladar diz respeito às preferências alimentares de cada um de nós e, somado às sensações de texturas (mole, pastoso, líquido, duro, crocante, etc) e consciência do corpo (se a boca está aberta, fechada, quanto de força colocar na mastigação…) resulta numa alimentação prazerosa.

Sabemos que diante às dificuldades na alimentação da criança há aumento no nível de stress da família, destacado por um sentimento de “incompetência” dos pais por não conseguir alimentar seu filho, sobretudo pelas muitas horas que são dedicadas a alimentação, com frustrações diante da negativa e comportamentos aversivos dos filhos.

Nesses casos, é importante que, caso seu filho demonstre aversão, rejeição ou dificuldade em aceitar novas texturas de alimentos, não o force…. lembre-se, um bebê nascido a termo, com desenvolvimento global dentro do esperado, leva em média 1 ano ou mais para ser apresentado a todas as consistências e texturas dos alimentos…há de se dar tempo ao desenvolvimento e amadurecimento das suas sensações para que ele possa dar conta desse desafio. Procure ajuda e orientações direcionadas.

Favoreça um ambiente seguro, com conforto e tranquilo nas primeiras ofertas. Explore o potencial sensorial do alimento e permita que o seu filho cheire, coloque as mãos, coloque a comida na língua, na boca… deixe ele se “sujar”… permita-o que ele possa colocar as mãozinhas nessa papinha ou a mãozinha na boca para enriquecer suas experiências e se sentir seguro com as novidades. Mesmo que nesse momento ele ainda não consiga comer todo o pratinho como você esperava… se ele manusear, cheirar, olhar, brincar de oferecer para você, para o pai ou irmão, vocês já conseguiram se alimentar de sensações, de afeto e de brincar…aos poucos ele vai conseguir dar mais um passo e colocar o alimento na boca para comer.

Sirva sempre o prato de papinha na frente do bebê para que ele possa observar a comida chegando ao seu prato. Provoque a integração de sensações apresentando o alimento cru para que ele possa explorar o cheiro e diferentes texturas e consistências…peça para ele te ajudar com o dedinho ou com a mão a descascar uma fruta de fácil manuseio como a banana, tangerina, figo…. Muitas vezes começamos o processo de interação das sensações dos alimentos pelos “lanchinhos” como hora da fruta ou do suco para favorecer esse contato.

Traga ludicidade para a hora da alimentação como deixar que ele brinque com a comida, dar de comer a um boneco, caso ele tenha irmãos, peça ajuda para dar de comer ao irmão e sobretudo, deixar que ele brinque à mesa enquanto a família come para que ele possa observar diariamente como vocês fazem e o prazer que têm ao se alimentar.

É importante sempre conversar sobre as questões e dificuldades alimentares quando houver, com seu Pediatra…pode ser que seja necessário a avaliação e orientação de uma Fonoaudióloga especializada pois, o processo de mastigação é um aprendizado e depende do desenvolvimento da motricidade oral. Precisamos avaliar se essas questões estão íntegras e trabalhando de forma adequada para favorecer a alimentação. Algumas vezes, a criança aparentemente mastiga mas não está com essa função desenvolvida de forma adequada, não tem força, não consegue partir o alimento com eficácia para engolir então ele “masca”, o que dificulta o ritmo e quantidade de alimento que ele ingere… há de se avaliar também as questões respiratórias… como sua criança está coordenando os movimentos de mastigação, sucção e deglutição com a respiração.

A criança com comportamentos aversivos para se alimentar pode formar “bolos” de alimento na boca, acumulando geralmente no céu da boca para engolir rápido… e assim sentir menos sua textura e sabor. Elas podem começar a “escolher” determinados alimentos e apresentar comportamentos seletivos para comer, pois em geral, não conseguem administrar certas texturas e consistências mais complexas na boca no processo de deglutição e com isso, preferem alimentos mais fáceis de lidar e ter controle sobre ele.

Com a estimulação das sensações, por meio do Brincar, das experiências do tato, visual e do cheiro dos alimentos faz com que a criança se sinta confiante no espaço que a cerca, capaz de manusear e explorar diferentes texturas, brinquedos e brincadeiras. Por isso, no momento da alimentação ela se sentirá segura e capaz para experimentar novos alimentos e comer de forma tranquila e saudável.

Caso tenha dúvidas ou esteja preocupado de como seu filho está reagindo à introdução alimentar, converse com seu Pediatra sobre processamento sensorial. Busque orientações com um Terapeuta Ocupacional especializado em Integração Sensorial de Ayres.

Use nossos canais de comunicação aqui no site para tirar dúvidas, comentar ou sugerir. Estamos sempre à disposição.

Forte abraço,

Ana Luiza Andreotti
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